(Projeto de Decreto Legislativo nº 11/22, do Ver. Josué "D'Menor" - Avante)
A CÂMARA MUNICIPAL DE UBATUBA decreta:
Art. 1º Nos termos do Decreto Legislativo nº 02/15, que alterou o Decreto Legislativo nº 04/13, fica concedido o Título de "Ubatubense Ilustre" ao Senhor José Manoel dos Santos, fazendo deste singelo título uma homenagem a todos os caiçaras natos, através da pessoa deste Ilustre Caiçara, conforme biografia anexa.
Art. 2º Este Decreto Legislativo entra em vigor na data de sua publicação.
Câmara Municipal de Ubatuba, 15 de setembro de 2022
Este texto
não substitui o original publicado e arquivado na Câmara Municipal de
Ubatuba.
BIOGRAFIA
Ao dia seis de Dezembro de 1939, nascia José Manoel dos Santos. Entretanto, foi somente após três meses de nascido que ganhou o seu registro em cartório. O atraso era comum na época, devido à dificuldade de locomoção.
E foi com o nome de José Manoel que foi registrado. Apesar disso, hoje em dia, poucos o conhecem assim.
Filho de Anativa Rosa de Oliveira e de Pedro Manoel dos Santos, em sua infância compartilhava o nome com um primo que fora batizado também de José Manoel, sendo chamado, então, de "Zeca do Pedro" (seu pai), o que ocasionou, com o tempo, o apelido de Zeca Pedro.
Típico caiçara que adora um bom café com farinha de milho e abacate, cresceu livre pelo mato e pela praia, pescando , caçando, plantando , colhendo e admirando o que a natureza do Sertão da Quina poderia lhe oferecer .
Lembra-se com carinho do tempo que passava brincando com seus irmãos com os pés na terra e na areia da praia, do trajeto de aventuras que percorria para chegar até a escola e até das atividades propostas pela professora.
Recorda com emoção dos cuidados e sacrifícios de sua mãe para que não faltasse o básico a seus nove filhos, sendo três deles pessoas com deficiência física.
Após perder o pai no início de sua adolescência, tomou para si, junto de seus irmãos mais velhos, os encargos de um pai de familia. E apesar da casa simples de pau-a-pique, da "cama" feita de taboa trançada, da falta de energia elétrica e do medo das noites de ventania que levavam embora os frágeis telhados de palha, e do fato de que, sim, às vezes lhe carecia o mais básico, o que nunca faltava era o amor e a cumplicidade entre os seus.
A responsabilidade que lhe foi imposta logo cedo, só não foi maior do que o seu amor por ajudar. A alegria em cooperar foi florescendo com os anos e o levou a ajudar a construir e trabalhar no asilo do bairro, por volta de 1955, auxiliando a banhar, medicar e alimentar os idosos que ali moravam. Assim como o conduziu a ministrar aulas no antigo projeto Mobral, geralmente aos mais velhos, que não tiveram a oportunidade de estudar e aprender a ler e escrever, embora ele mesmo tenha frequentado a escola até a quarta série.
Suas brincadeiras de infância, pelas quais aproveitava do privilegio de poder rodear livremente por aí, lhe renderam o gosto por correr atrás de uma bola de futebol no futuro, fazendo parte de um dos primeiros times representantes do bairro Sertão da Quina, o Água Branca Futebol Clube.
Também faz parte de sua caminhada o projeto e a construção da igreja Comunidade Nossa Senhora das Graças como é hoje, por volta de 1986, localizada no bairro Sertão da Quina. Igreja que reuniu ali as testemunhas de sua fé, manifestada por meio dos louvores entoados pelo grupo de músicos, do qual fez parte por muitos anos,dedilhando a sua viola e o seu violão.
Seu amor pela música surgiu desde cedo, sendo conhecido e reconhecido por tocar sua viola nos festejos religiosos, como as Festas do Divino e as Folias de Reis. Violonista autodidata, é considerado hoje uma das inspirações para as gerações posteriores de músicos da região.
Em 1966, junto a outros moradores do bairro, não resignados em esperar a obra da ponte que atravessaria o Rio da Agua Branca, logo se prontificou em ajudar na construção do projeto, que seria mais tarde conhecido como Ponte do Rio da Laje e que facilitou o trajeto por dentro do bairro Sertão da Quina.
Suas andanças pela mata em torno do bairro, alimentaram em seu coração o amor pela flora e pela fauna natural da região, o levando no futuro a fazer um curso de observação de aves.
Seu primeiro casamento, com a professora Cida Balia, em 1967, lhe trouxe seus três primeiros frutos, seus três filhos: Geraldo, Josué e Júlio César, dos quais ganhou cinco netos.
Sua atual companheira, a professora Dilma Cássia Nogueira, com quem iniciou o relacionamento no ano de 1988, lhe presenteou com suas duas filhas: Ana Luiza e Camila e a mais nova netinha.
Hoje aposentado, contribuiu por muitos anos como servidor público da Prefeitura Municipal de Ubatuba, tendo passado por alguns cargos até que conquistou a vaga de Fiscal de Obras, onde cresceu profissionalmente e criou laços de amizade para a vida.
Muitos destes já se foram, mas Zeca Pedro permaneceu e permanece nele o amor e a graça em poder compartilhar e contribuir com aqueles que percorreram junto dele a sua história. Permanece o desejo em partilhar os causes que conhece de cor e permanece o brilho em seus olhos ao contar e recontar a sua trajetória até aqui.
Eu, na atribuição que me foi concedida pelo povo e por conhecer toda sua trajetória profissional e pessoal deste grande ser humano, posso falar com toda convicção que sem dúvidas, esse título é mais que merecido.